Menu

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Introdução a Taxonomia

Inúmeras vezes tivemos que organizar alguma coisa em nossas vidas. Em alguns casos pode ter sido o nosso horário da semana, nosso quarto ou até mesmo nossa casa. Quando precisamos organizar algo que seja de nosso interesse, o primeiro passo é categorizar os objetos que irão fazer parte do que organizaremos, por exemplo, nossa casa. Para organizarmos o lugar em que vivemos separamos os objetos presentes em nosso lar em categorias (objetos da cozinha, da sala, do quarto e etc.) e, em seguida, criamos sub-categorias, como armário para roupas, objetos em uma estante ou mesa e assim por diante. O exemplo utilizado organizou uma casa fictícia sob o critério de funcionalidade.

No entanto, poderíamos organizar o nosso quarto sob diferentes critérios, como cores, tamanho e etc. Apesar de que geralmente preferimos organizar por funcionalidade, tornando mais prático e higiênico o ambiente que vivemos (imagine encontrar uma escova de dentes vermelha junto com o pote de comida de seu cachorro que também é da mesma cor!).

Carl von Linné (1741 - 1783), responsável pela criação da base da Taxonomia moderna.


A organização dos seres vivos

Durante a nossa história, o Homem tentou diversas vezes organizar e categorizar os seres vivos. Dois importantes motivos levaram a essa busca, o primeiro seria a curiosidade em conhecer as espécies que vivem em nosso planeta e o segundo o reconhecimento de espécies que sejam benéficas, maléficas ou indiferentes ao ser humano.

Aristóteles

Os primeiros registros históricos que tratam sobre a classificação dos seres vivos remetem ao filósofo grego Aristóteles (séc. IV a.c.). Suas primeiras tentativas de classificação foram ao tentar separar animais de sangue vermelho e sangue incolor, separando-os também em aquáticos, terrestres e aéreos. 

De acordo com Aristóteles uma (A) minhoca e um (B) cachorro poderiam ser agrupados dentro de um mesmo grupo, considerando que ambos tem sangue vermelho.
A falha nessa pensamento encontra-se em que indivíduos morfologicamente muito distintos poderiam se encontrar em um mesmo grupo, como por exemplo aves e borboletas, ou golfinhos e estrelas-do-mar. Essa justificativa poderia ser eficiente durante a época em que Aristóteles se encontrava vivo, contudo, com o desenvolvimento da taxonomia comparada e estudos de semelhanças entre características morfológicas dos seres vivos, essa forma de classificação cairia em desuso.

Santo Agostinho (354 - 430)

Santo Agostinho também tentou categorizar os seres vivos seguindo alguns critérios, como por exemplo animais que seriam úteis, nocivos ou indiferentes ao ser humano. No entanto, o mesmo argumento que inviabiliza a forma de classificação de Aristóteles também poderia ser usada aqui.

De acordo com Santo Agostinho um (A) tubarão e um (B) urso poderiam estar agrupados em um mesmo grupo, considerando que ambos podem ser nocivos ao ser Humano.
Carl von Linné (1707 - 1778)

O estudo da Sistemática e Taxonomia teve início durante o séc. XVIII. O naturalista Carl von Linné (também chamado de Lineu) foi o responsável pela descrição de inúmeras espécies. Além disso, enquanto realizava seu trabalho no campo da identificação dessas espécies ele propôs um mecanismo de classificação que considerava características homologas e morfológicas

Ao observar a anatomia da pata do sistema esquelético de diferentes mamíferos Lineu percebeu que essas estruturas possuíam semelhanças que mesmo organismos aparentemente distantes, como  morcegos, gatos e baleias poderiam participar de um grupo em comum.
A proposta na classificação dos seres vivos tem início na criação de três grandes grupos chamados de Reinos (Mineral, Animal e Vegetal). Cada um desses Reinos seriam posteriormente separados em Filos, Classes, Ordens, Famílias, Gêneros e, por último, Espécies, a partir de diferentes critérios de categorização.  É importante ressaltar que, por essa proposta, uma espécie que foi separada de uma outra espécie devido alguma característica que a primeira possui e a segunda não, elas não irão poder se encontrar novamente em uma sub-divisão posterior. Além disso, espécies de um mesmo gênero, por exemplo, apresentam mais semelhanças entre si do que espécies de uma mesma                             

Modelo demonstrando as sub-divisões de classificação propostas por Lineu. O maior grau de parentesco pode ser encontrado entre espécies de um mesmo gênero, enquanto o menor em espécies de um mesmo Reino. 

Sistema Binomial de Lineu

Lineu acreditava que era importante nomear cada espécie que fosse encontrada de tal forma que aquele nome fosse único a ela. Dessa forma seria possível evitar confusões, ao se referir a um organismo que pudesse estar causando um problema ou benefício ao Homem (veremos exemplos disso a seguir). A partir disso foi criada uma distinção entre nomes populares e nomes científicos que obedeciam o sistema proposto por Lineu.

O Sistema Binomial de Lineu recebeu esse nome por propor que cada espécie catalogada tivesse dois nomes, ambos escritos em itálico, sendo que o primeiro deveria ser escrito com a primeira letra maiúscula e deveria se referir ao gênero daquela espécie e o segundo, também em itálico, mas com a primeira letra minúscula, deveria se referia à espécie. Assim, cada espécie teria um nome próprio a fim de facilitar a identificação das mesmas. Alguns exemplos são: Telenomus podisi, Edessa meditabunda Alphitobius diaperinius, Panthera onca, Spodoptera frugiperda e etc.

O que é uma espécie?

Apesar de parecer bastante evidente que seres humanos e cavalos são de espécies diferentes, podemos encontrar em alguns casos espécies muito semelhantes ou idênticas morfologicamente, chamadas de espécies crípticas. 

Duas espécies distintas de aves. A esquerda a espécie Cethia brachydactyla e a esquerda Cethia familiares. Apesar de serem espécies distintas elas não apresentam diferenças morfológicas entre si, caracterizando uma espécie críptica.
Para diferenciarmos espécies muito semelhantes entre si devemos encontrar outros critérios que ajudem a resolver essa questão, como análises moleculares ou perguntas, como "elas são capazes de se reproduzir?" ou "Os indivíduos gerados desse cruzamento são férteis e capazes de gerar descendentes?".

Sendo assim, a definição de espécie mais aceita hoje é: 

"Espécie é um conjunto de indivíduos que compartilham o mesmo local físico e temporal e são capazes de gerar descendentes férteis"

O que é uma raça?

As diferentes raças de cachorro pertencem à mesma espécie Canis familiaris e o que temos são diferentes raças. Temos essa definição, pois, apesar de toda a diferença observada entre diferentes raças de cães, ainda assim eles são capazes de se reproduzir e gerar indivíduos também férteis.

No entanto, devido a seleção artificial imposta pelo o Homem, as raças tem se tornado cada vez mais diferentes entre si, podendo levar a um mecanismo de especiação no futuro, pois raças muito distintas não serão mais capazes de se reproduzir devido a impossibilidades morfológicas, como por exemplo o tamanho.

Cães de diferentes raças, mas todos da mesma espécie, Canis domesticus.
Nomes populares ou Nomes científicos

Em nosso dia a dia não nos referimos aos seres vivos pelos seus nomes científicos, e sim por seus nomes populares, como ipê, sapo, besouro, água-viva, cogumelo, bactéria e etc. No entanto, em trabalhos científicos é muito importante que usemos os nomes científicos das espécies para que todos saibam a que o organismo o autor realmente se refere.

Um exemplo interessante sobre a importância do uso correto do nome científico para as espécies é o que ocorreu no Brasil com as espécies da lagarta-cartucheira-do-milho Helicoverpa armigera e Helicoverpa zea. Devido a identificação incorreta da Helicoverpa zea (confundida com a espécie Helicoverpa armigera) a mesma se alastrou pelo Brasil e tem gerado grande preocupação entre fazendeiros por ela ser resistente aos inseticidas e variedades transgênicas do milho utilizadas atualmente no combate à outra espécie mencionada. Esse equívoco tem gerado grandes prejuízos à agricultura brasileira.

As duas espécies de lagartas-cartucheiras-do-milho (A) Helicoverpa armigera e (B) Helicoverpa zea.
Robert H. Whittaker (1920 - 1980)

Quando Lineu propôs o seu sistema de classificação foram criados apenas três Reinos que englobaram todos os seres vivos. No entanto, com o avanço da Ciência nas areas de microscopia e taxonomia, viu-se a necessidade de se expandir o número de Reinos existentes.

Em 1969, Robert H. Whittaker, propôs a formação de cinco Reinos que englobassem todos os seres vivos conhecidos naquela época, os Reinos Monera, Protista, Fungi, Animallia e Plantae. Essa divisão em cinco Reinos é a mais utilizada até os dias de hoje.

Sistema dos cinco Reinos proposto por Robert H. Whittaker em 1969.
Uma classe acima de Reino, chamada de Domínio, foi proposta por Carl Woese (1928 - 2012). De acordo com sua proposta deveriam haver três Domínios (Prokarya, Archaea e Eukarya) e os Reinos viriam em seguida. Essa proposta abriu as portas para outras formas de classificar as espécies em um maior número de Reinos que poderiam variar entre seis e oito. No entanto, a classificação em cinco Reinos proposta por Whittaker ainda é a mais utilizada em livros didáticos.

Árvores Filogenéticas

A partir do sistema de classificação Binomial e seus avanços, a teoria evolutiva pode utilizar esse sistema taxonômico para criar uma sequência lógica baseada em fatos paleontológicos coletados pelo mundo e sustentar a hipótese de evolução e aumento da complexidade dos seres vivos. Resultados como esses são dispostos em modelos chamados de Árvores Filogenéticas.

Exemplo de Árvore Filogenética mostrando o processo evolutivo que culminou no aparecimento da espécie humana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário